quinta-feira, 24 de junho de 2010

Kamasutra Cadeirante

Pelo bastante que já conversei com homens que tiveram lesão medular, antes de saber se algum dia vão voltar a caminhar, sua primeira preocupação é saber se o Jonny vai funcionar. Sério, geralmente, é a primeira preocupação. E a ânsia de ter essa resposta é tanta que já ouvi alguns causos hilários. Imagina um cara no hospital todo quebrado - inclusive com o pescoço quebrado - de colar cervical, com menos de dois meses de lesão, pedindo pra namorada abrir sua fralda e brincar pra ver se o bicho sobe. Agora imagina a cara de alegria do moleque ao constatar que, oba, funciona!

Bueno, passada essa primeira fase de apreensão o “kit tragédia lesão medular premium” começa a se mostrar. Só subir já não é o suficiente. O cara começa a lembrar como era bom fazer de pé. E, como era bom fazer com a menina de quatro (reza a lenda que é a preferidas dos muchachos). Ele está lá todo saudoso dessas posições, quando ‘tchan’ tchan’, surge o super INTIMATE RIDER para revolucionar o kamasutra cadeirante! Yeah! Conversando com os guris que estavam lá no sarah, tomei conhecimento deste super acessório que facilita a vida do quebrado entre quatro paredes.

O brinquedinho consiste numa cadeirinha que possibilita um vai-e-vem gostoso, ôe! O cara transfere da cadeira de rodas para o INTIMATE RIDER e a cousa pega fogo. Acompanha a cadeirinha uma mini caminha que é para a menina utilizar e possibilitar várias posições. Saca as fotos.






O brinquedo custa menos de 300 dólares na SportAid e no Brasil tem um maluco vendendo por este blog. Jogue ‘INTIMATE RIDER’ no youtube e assista o vídeo com demonstração do produto.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pipi nas alturas

Tenho um causo bizarro para narrar. Estava eu no avião, voltando pra Porto Alegre, quando minhas pernas sinalizaram que eu deveria fazer xixi. Bueno, chamei a aeromoça que veio com uma cadeirinha de rodas ridícula que a companhia aérea disponibiliza na aeronave. A cadeirinha é minúscula, estreita e mal cabe uma nádega da pessoa no acento. Um pega nos braços, outro embaixo dos joelhos. Me transferiram para a bendita silla. Fui guiada, me segurando onde dava, morrendo de medo de escorregar, me equilibrando no hemisfério direito do glúteo esquerdo. Adivinha se a cadeirinha entrou no banheiro do avião? Claro que não! Aliás, eu acho de uma cara de pau sem tamanho ter um adesivo com o símbolo da acessibilidade colado na porta daquela espelunca que mal suporta um ser humano de estatura mediana. Obesos, pessoas altas e cadeirantes são privados de urinar durante o voo ou então são obrigados a fazer pipi de forma grotesca. Tirem as crianças da sala. Vou contar como tirei a água do joelho a sei lá quantos mil pés de altitude. Pedi pra aeromoça fechar aquela cortina que elas usam pra preparar o serviço de bordo, sabe? E ali atrás, comecei o procedimento de sondagem. Pensa numa cena constrangedora, pensa. Agora multiplica por mil, eleva ao quadrado… Como eu estava muito mal equilibrada na cadeirinha ridícula, uma das aeromoças (eram duas na cena) ficou acocada na minha frente, segurando minhas pernas. Ainda vestida, comecei a separar o material para fazer pips de quebrado: sonda, xilocaína, gaze, água boricada, saco coletor… A cara delas de espanto era algo. Quando peguei a seringa da oxibutinina, faltou perguntarem se além de paraplégica eu era junkie. Tudo pronto, começei a baixar as calças, e fui obrigada a passar a sonda no ‘escuro’. Não usei o espelho que sempre uso porque se eu tirasse completamente as calças a berenice ia ficar cara a cara com a aeromoça que segurava minhas pernas. Diz, se eu ou qualquer outro cadeirante merece isso?! Diz, também se a aeromoça merece ter a genitália dos passageiros a cinco centímetros da sua cara?! Por favor! ‘Zorra’, o que custa fazer um banheiro maior? E aí sim, colar a porcaria do adesivo azul com a cadeirinha branca.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pintando o sete

Alguns desenhos que fiz ao longo das internações aqui no Sarah na aula de artes gráficas, usando um software muito massa que se chama art rage. Ele imita tudo o que é tipo de textura. Variações equinas e estado de espírito zen.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Divindo as dores

Então, o dia hoje não foi dos melhores. Já não estou de alta na sexta e sim começo a tomar dois antibióticos (via oral, graças a deus!) amanhã pra acabar com as bactérias escrotas. Também fiquei sabendo que estou quase hipertensa. Aham. No limite da pressão alta. O médico acha que a causa é o uso de longa data do corticóide. O que te salva também te mata. E de novo o corticóide entra em ação pra estragar meu dia. Como faz muito tempo que não fico em pé, o médico aqui disse que tenho que fazer uma densitometria ossea antes de voltar a ver a vida do alto. Esse remedinho além de engordar a criatura, fazer subir sua pressão, também prejudica a massa óssea. Podem rolar fraturas em situações bestas, tipo, ficar em pé.
No mais, sábadão sai pra almoçar com minha tia e meus primos. Comi sushi e mais tarde tinha uma festa. Estávamos quase saindo quando uma dor de barriga fulminante me fez cagar nas calças. A vida as vezes pode ser chata pra cacete, né? Bueno, meu primo me pegou no colo e fui pro vaso. Minha tia me ajudou no banheiro. Puxamos a fralda cagada e de repente ela se atrapalhou. A merda caiu em slow motion, estilo matrix, e passou a milimetros da minha perna. Se eu suasse teria sido frio. Só tinha aquela calça pra ir pra festa. Se bem que a dor de barriga quase não me permitiu sair. Caguei por mais duas horas e cheguei leve no festerê. Foi meia garrafa de tequila. E o resto, obviamente não me lembro. Uma despedida talvez. De volta ao lance da hipertensão, terei que mudar vários hábitos para não ter que tomar mais um remédio. Da boca do médico saiu: dieta balanceada, restrição de sal, bebida alcóolica raramente, nada de excessos. Porra, até o cigarrinho deve dançar. Pra quem gostar de fazer tudo intensamente, é bem complicado viver sem excessos. E, tão riscando da lista todos os pequenos prazeres mundanos que gosto de desfrutar. Preciso arranjar um namorado urgentemente. Algum prazer tem que ter nessa vida, né?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Today

Hoje o dia foi bom. Terminou o preparo! Yeah! Chega de reinar no trono. Voltei a me alimentar decentemente. Mas, tive duas notícias não muito bacanas. Estão crescendo duas bactérias na cultura da minha urina: a burkholderia e a klebsiella. Além de terem nome de terrorista essas duas escrotas até agora se apresentaram sensíveis a apenas um antibiótico via oral e eu sou alérgica a ele! Vamos tentar neutralizar as danadas com vitamina C e um outro troço que não lembro o nome. Se não melhorar a situação, antibiótico na veia... A outra notícia é que minha alta está prevista pra sexta que vem! Não quero ir embora tão rápido, é bom demais estar aqui. Chuif...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

De guaiaca na caatinga

Bueno, sai do frio de Porto Alegre domingo passado. Vim pra Brasília toda encasacada, de bota e guaiaca. Cheguei no cerrado e passei muito calor, mas muito calor até conseguir trocar de roupa.
Fiz a admissão no Sarah segunda de manhã. Bom demais estar de volta ao lago e rever a galera que trabalha aqui. Dessa vez não tem muita gente internada. Estou sozinha na enfermaria feminina: tô de rainha. Hehehehe. Quanto aos bofes, sabe como é sempre rola um romance por aqui, a coisa tá fraca... Veremos quem mais interna. Nham, nham.
No momento, sofro cólicas terríveis. A única parte foda de vir pro sarah é o bendito 'preparo'. Um ritual macabro de limpeza intestinal para realização de alguns exames. Veja bem a situação. São três dias comendo apenas alimentos que não deixam resíduo. No almoço e janta: chuchu, frango, abobrinha e batata. Café da manhã e ceia: torradinha com geleia e chá ou água de coco. Somado ao martírio gastronômico, as nurses te dão uma mistura bizarra de tamarine + óleo de rícino + luftal (um tubo inteiro!). Tamarine, pra quem não conhece, parece uma lama negra com gosto de geleia de sei lá o quê. Meu, tu caga até quase morrer. Se esvai mesmo. Devo ter emagrecido já um bocado, o que por um lado é bom visto que estou mui porpeta! Engordei sete quilos desde a última internação. Já falei com a nutricionista e vou fazer aquela reeducação alimentar. Chega dessa história de ser gordinha mas feliz.
No mais, antes de viajar conversei um pouco com meu irmão que mora há cinco anos na Nova Zelândia. Como sinto falta desse guri. Foda. A gente filosofou sobre a vida. Sobre uma das poucas certezas que essa experiência maluca tem: a finitude. Gentém, a brincadeira tem prazo de validade. Procuro ter isso em mente todos os dias: a vida tem hora pra acabar. Assim, não perco tempo com bobagem. Ah, e tem mais um detalhe, no rótulo não tá a data da validade. Isso é muito foda. Quem garante que se vai estar aqui amanhã? Se joga!