Bah, é com muuuita alegria que coloco aqui a capa do livro. Enfim, o livro. Quem acompanha minha história a bastante tempo sabe o quando eu esperei pra esse projeto se concretizar. Caralho, já tá na gráfica. Falta menos de um mês pra eu pegar uma porra dum exemplar cás mão! Mais essa conquista só reforça a minha crença de que tudo, tudo mesmo, é possível. E, a minha maior esperança, que é voltar a andar vai acontecer. Hoje, dei uma entrevista pra ZH, deve sair no caderno vida nos próximos dias, e no bate papo com o repórter falei algo que realmente acredito. Mesmo depois que eu volte a caminhar vou continuar na peleia pela inclusão. Como diz um amigo, 'o bichinho da inclusão me mordeu, e não tem mais volta'. E vai ser massa essa história de livro bombando, de ficar conhecida, porque isso vai me dar mais força e visibilidade pra brigar pela causa.
Agora, finalmente, a cara do livro:
Release, básico:Aos dezenove anos, uma doença colocou uma cadeira de rodas no caminho de Juliana Carvalho. Sem esconder os momentos dolorosos e a vontade de desistir, este relato autobiográfico extrai humor e esperança de situações difíceis e expõe a mistura de tragédia e comédia que caracterizam a sua – e a nossa – complexa condição humana.
Na minha cadeira ou na tua? percorre questões fundamentais do cotidiano dos cadeirantes, com informações sobre inclusão, acessibilidade e lutas por enfrentar, e intercala narrativas sobre a vida da autora antes e depois da lesão medular. Antes dela, Juliana relembra pensamentos, brincadeiras e a relação ingênua com a família durante a infância e fala sobre a descoberta do amor e do sexo, as festas, a rebeldia e as bebedeiras durante a adolescência. Já adulta, após a grande virada, a readaptação, a convivência com os novos limites, a superação e a percepção de que uma cadeira não modifica o fundamental: o que o ser humano é além do próprio corpo.
Um dos méritos do livro é o bom humor, mas Juliana sobe o tom quando, no último capítulo, se refere à condição de cadeirante na sociedade de hoje: “Podemos ter uma legislação pródiga, mas, na prática, estamos muito aquém do que está no papel. Muito aquém”. E segue exemplificando: “No meu trabalho, o que não é adaptado, batalho pra ser. Tenho autonomia e um grande prazer em tocar o ‘Faça a Diferença’, programa exibido na TV Assembleia do Rio Grande do Sul, que aborda temas ligados à inclusão, ao respeito à diversidade e à promoção dos direitos humanos”.
Trecho do capítulo “Pernas pra que te quero”“Já falei que os internos não usam roupas íntimas. Passei umas duas semanas sem sutiã. Um crime contra os peitos. Pontos pra gravidade. Uma noite dessas, quero ir passear no “quinto dos internos”, e vou pegar autorização com as enfermeiras. Uma delas soltou essa:
– Vai passar um batom, guria! E colocar um sutiã.
– Mas, não pode usar... - falei.
– Eu acho um absurdo isso! Como você é boba, pega escondido.
Passo a noite pensando a respeito do sutiã. Acordo, e vejo na minha grade de atividades que tem basquete. Deus! Jogar basquete sem sutiã! E se confundirem as bolas? Percebo que é o dia certo para pegar meu sutiã no guarda-valores. Vou lá. Peço pra dar uma olhada nas minhas coisas. Está tudo lacrado.
- Quer tirar o lacre? - pergunta solícito o funcionário.
Digo um não miúdo e saio com ar de derrota. Mas o que eu estou fazendo? Sutiãs são ilegais aqui dentro. E se me pegarem? E se me expulsarem? E o basquete? Mira que dilema estoy viviendo. Percebo que estou sem chiquinhas, e lembro que as que eu tinha estão no guarda-valores. Yeah! Lá fui eu de novo.
- Moço, eu queria pegar umas chiquinhas (e meu sutiã, é óbvio).
- Tiro o lacre?
- Aham...
Pego o sutiã e enfio embaixo do pijama, me sentindo supertransgressora.”
A autoraJuliana Carvalho nasceu em 1981, em Porto Alegre, e é publicitária. Cadeirante desde os 19 anos, quando teve uma inflamação na medula, é atuante no movimento das pessoas com deficiência. Apresenta o programa “Faça a Diferença”, que promove os direitos humanos e o respeito à diversidade, exibido na TV Assembleia do Rio Grande do Sul. Mantém os blogs “Comédias da Vida Aleijada” (comediasdavidaaleijada.blogspot.com) e “Sem Barreiras” (www.zerohora.com.br/sembarreiras), este do Grupo RBS, que aborda questões sobre acessibilidade e inclusão. Dirigiu o curta-metragem “O que os olhos não veem, as pernas não sentem”, premiado pelo Júri Popular do Festival Claro Curtas de Cinema. Na minha cadeira ou na tua? é seu primeiro livro.
Na minha cadeira ou na tua?
Editora Terceiro Nome
14 x 21 cm, 248 páginas
Preço: 34,00